Confesso que sou uma pessoa atrasada para séries.
Raramente eu acompanho uma que esteja em alta no momento e não tenho uma explicação do porquê isso acontece, só sei que é assim. Porém, uma coisa boa disso tudo, é que acabo não tendo pressa ao assistir alguma coisa, assisto com calma, sem medo de ficar para trás (porque na verdade já estou, rs). Assim, fico mais atenta com cada episódio.
E é por conta disso que hoje trago um ensinamento que observei em uma dessas séries.
Há um tempo, comecei a assistir à série “Grey’s Anatomy” com um pé atrás, acreditando que nada seria melhor que a série “House M.D.” na minha opinião, claro. Mas, a verdade é que, mesmo as duas tendo como tema principal o ambiente hospitalar, é muito difícil compará-las. As duas são excelentes em elenco, produção, narrativa, tudinho. Contudo, hoje vim falar sobre um episódio em específico que me marcou de Grey’s.
O motivo pelo qual mais gosto de assistir séries assim, é que me tiram completamente do meu mundo real. São cenas que dificilmente vou vivenciar como profissional (designer e criadora), o que me faz relaxar. Porque, na minha cabeça, é algo distante de acontecer, anulando as possibilidades de comparação com a minha rotina.
Porém, é inevitável não encontrarmos pontos em comum com a nossa vida… E isso aconteceu assistindo ao episódio 6 da temporada 4 (Lutando Kung-Fu) em Grey’s Anatomy.
Resumidamente, o que acontece no episódio é o seguinte: o paciente em questão precisava realizar uma cirurgia cardíaca, mas tinha alergia à anestesia. Entretanto, sua cirurgia era crucial para que continuasse vivo, então a única possibilidade naquele momento era ser operado sem anestesia, ou seja, estaria acordado enquanto o operavam. Bizarro e assustador, né?
Então, uma das médicas responsáveis pelo caso, se comove e tenta encontrar uma saída para essa experiência ser menos traumatizante para o paciente. Assim, ela se coloca no lugar dele.
Deita-se na maca de cirurgia; remove as câmeras da área de visualização do paciente; no lugar do soro, coloca uma imagem do pássaro pelo qual o paciente esperou a vida toda para conhecer (seu propósito principal como entusiasta observador de pássaros), o Pica-pau Bico-de-Marfim; durante a operação, colocou fones de ouvido no paciente para não ouvir nenhum som desagradável.
Mesmo com todo este preparo, durante a cirurgia houve um momento no qual o paciente entrou em pânico e começou a se mexer. Sua ansiedade também fez com que seu coração acelerasse, atrapalhando o andamento da operação. Porém, os médicos precisavam dar continuidade e finalizar a cirurgia.
Sabendo que o paciente era apaixonado por estudar pássaros, ela começou a conversar com ele sobre seu conhecimento nesses animais. De forma brilhante, pediu para ele comparar cada médico aos pássaros que ele conhecia. Assim, a médica conseguiu tomar o controle da situação e permitiu que a operação tivesse continuidade.
Trouxe esse exemplo para vermos como a experiência do usuário (UX) não é apenas limitada à área do design.
Ela está presente em tudo que fazemos, como pessoas e profissionais. O estudo da experiência do usuário, em minha interpretação, resume-se a entregar uma experiência positiva. Além disso, também é capaz de tornar uma experiência negativa em positiva, ou pelo menos, minimamente desagradável para a pessoa.
É sobre olhar para cada pessoa como única e entender suas necessidades, vontades, desejos e dores. É sobre respeitar o espaço e a vida de cada um.
Enfim, todos temos um Pica-pau Bico-de-Marfim que queremos conhecer. Esse motivo é suficiente para aceitarmos situações desagradáveis como parte de nosso crescimento pessoal.