Respondendo à uma reflexão instigada a partir do poema de Paulo Leminski “Se incenso fosse música”, eis meu pensamento.
Numa certa discussão ocorrida durante as aulas de TCC em 2019 com meus amigos, chegamos na mesma questão de hoje, porém com um nome mais convencional:
“Qual seu maior sonho? | Se pudesse estar fazendo o que mais sonhou, o que seria? Ainda estaria aqui ou num lugar bem diferente?”
Essa questão, preciso ser sincera, sempre me incomodou um pouco. Não por não gostar de sonhar, pelo contrário até, por sonhar demais e sempre projetar minha vida muito além do presente, incentivando a ansiedade e cultivando projetos com um grau questionável de possibilidade. Não me entenda mal, sou super a favor de sonhar grande e, na verdade, sou muito jovem ainda para dizer que as coisas não são possíveis.
E dentro desse questionamento na aula, fiz uma conexão (bem doida, mas vou explicar bem!) com um poema que gosto muito do Mário Quintana, o “Poeminho do contra”:
“Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!”
Por livre interpretação, considerei o termo ‘passarão’ como um grande pássaro que sobrevoa muito alto e é quase inalcançável; e para ‘passarinho’ aquele pássaro que também voa alto, mas é mais acessível para nosso alcance.
Tendo isso em mente, o ‘passarão’ é aquele sonho gigante que um dia criamos mas não chegamos a vivê-lo. É aquele famoso sonho de criança como: “quero ser bailarina!” / “astronauta é a profissão mais legal, quero ser isso!” e por aí vai.
E ‘passarinho’ é o sonho que a vida nos encaminha, que vamos nos adaptando e descobrindo ao longo do caminho. Entenda bem, não é um conformismo, “aceitar o destino” e não fazer nada a respeito, nada disso. É sobre entender que você tem uma vocação; é sobre torná-las um objetivo, propósito, ou qualquer nome que sinta mais à vontade para chamar esse ímpeto.
E a partir dessa não esperada reflexão, nos pegamos sonhando novamente como crianças, e por alguns instantes aquela nostalgia nos dominou. No meio do caótico período de TCC, nos permitimos sair dali para falar de qualquer besteira que um dia almejamos ser.
Acredito que quando fazemos um resgate de sonhos passados, podemos tentar retornar e lembrar de algumas coisas que nos fizeram quem somos hoje.
É importantíssimo resgatarmos as nossas origens, principalmente das nossas vontades genuínas. Não para, necessariamente, pararmos tudo e seguirmos um sonho antigo, mas para entendermos como chegamos até aqui.
Se eu tivesse seguido apenas meu coração, teria escolhido ser dançarina de salão (pois é! quem diria), um sonho que deixei de escanteio logo que iniciei a graduação em Design Gráfico. Mas aí me questiono junto à outras pessoas “por que parou?”/ “por que não retorna com isso se gosta tanto?” e, realmente, por que não retorno?
Há diversas razões, mas uma delas foi ter escolhido me dedicar apenas à faculdade, que, nos trancos e barrancos, me fez repensar sobre sonhos e propósito. Me abriu a cabeça para diversos outros universos e formas de ver o mundo.
Conheci pessoas fantásticas, vivenciei experiências maravilhosas, enriquecedoras, aprendi a ser gente e deixar de me considerar medíocre.
E sobre esse último, a maior recompensa que eu poderia ter foi ser laureada com o mérito acadêmico na graduação. Sinceramente, algo que ainda não caiu a ficha direito e que provavelmente nunca de fato acontecerá; mas que eu senti aquela sensação de ‘dever cumprido’; ah, isso eu tive!
No momento eu estava muito agradecida, sem palavras e apenas no dia seguinte que consegui refletir melhor sobre isso. Pensei muito sobre como diversas pessoas que se formaram comigo também mereciam aquele prêmio, já que competências de design são complexas de serem medidas. Aqui expliquei mais detalhadamente sobre isso. De qualquer forma, esse reconhecimento significou uma coisa que para mim foi o mais importante: que eu sou capaz.
Para mim, a essência do Design é saber fazer conexões, correlacionar conceitos distintos e transformar isso em inovação.
E inovação não é sobre apenas inventar algo do zero, até porque nada se cria, tudo se transforma, não é mesmo? É sobre identificar problemas no sistema e encontrar caminhos criativos para solucioná-los. É sobre dominar a regra, para em seguida poder quebrá-la e transformá-la em algo novo, sem necessariamente criar algo novo, deu pra entender, né?
O que quero dizer com isso é que, na maioria das vezes, a ‘vida’ te leva para caminhos que você jamais imaginou, e não é isso que irá te definir. Mas sua atitude e capacidade de adaptação a partir do que aconteceu.
E agora eu te convido a continuar essa reflexão do poema de Leminski, questione-se: “Se incenso fosse música, eu seria o quê?”. E como já dizia a propaganda de anos atrás do Canal Futura:
“Não são respostas que movem o mundo e sim as perguntas.”